19/03/2008

O melhor dos aniversários



Foi numa quarta à noite.
Ninguém apareceu.
Nem mesmo Eu.

08/02/2008

“...Uma parte de mim pesa, pondera: outra parte delira."

É num lugar afastado, num precipício, onde eu sei que estou comigo e mais ninguém... como num reencontro de duas pessoas que não se vêem a tempos: ficam se olhando sem acreditar que estão ali, frente a frente, com o tempo passando até que se abracem e sintam seus corpos quentes. É o meu reencontro comigo.
Eu me controlo, me mantenho quieta, sociável. Sou sorrisos e sou preocupada, responsável, com amigos - belos amigos. Penso em tudo e em nada para que tudo – e todos – fiquem bem ao meu redor. Costumo sorrir bonito para que os outros olhem o sorriso e lembrem da dona da boca. Costumo falar doce para que a voz se torne melodia. Costumo também, me sacrificar, pra ver um sorriso. Me dôo sem pensar os contras... até que eles se voltem contra mim.
Eu não tenho limites, falo o que penso, sou impossível. Conviver comigo é uma guerra: ou se está abanando a bandeira branca ou em tiroteio. Não tenho meias palavras e não mando avisar. Se tiver que gritar, eu grito. E alto, para que todos ouçam e lembrem a minha postura. Não preciso saber o que pensam de mim... não são eles que vivem a minha vida.
Aí, a beira de um precipício, eu olho pra baixo e vejo uma reta longa, sem obstáculos, que se perde no horizonte. Sei que lá no horizonte terá uma curva, na beira de um precipício, que me fará parar; e eu desço, numa mistura de sentimentos – e ansiosa por isso também, porque não? – para começar a andar (sem olhar para o velocímetro) nessa reta.

Texto gentilmente escrito por
Aline Cristina
em 07.02.2008


19/12/2007

Estranheza

Uma conversa tipica e atemporal.

-Genotoxicologia periódica de uma mente insana e ás vezes, controvertida.
-Tabela inconstante radioativa de letras e silábas tônicas.
-Turbilhão de cores químicas em tubos de ensaio silenciosos e monocromáticos.
-Dispersão de proteínas sexuais ao vento úmido e escandaloso. Agarose em gel de clorato teratogênico.
-Feromônios no travesseiro em gotas de prazer lisérgico.
-Hmmm! Hematomas na pele clara e levemente rabiscada...
-Riscos de hemoglobina em costas limpas.
-"Feliz é o destino da vestal, esquecendo o mundo e sendo por ele esquecida
Brilho eterno de uma mente sem lembranças.
Toda prece é ouvida, toda graça alcançada.”
Alexander Pope
-Lindo...Tão longe estas dos galhos que te enlaço? Tão longe ficas de um mundo de distância retrógrada.Onde estas que não te vejo? Onde estás que não sinto tua alma?
-Bem aqui...Atrelado a cabos elétricos e a códigos binários, em Garras de queratina grudadas nas tais mãos...

07/12/2007

Incerteza

- Ainda há coisas não resolvidas... não há nada certo na verdade.
- Entendo.
- Bem... Somos adultos não é?
- Claro.

Ser adulto é difícil...
E crescer é pesado.

16/11/2007

Fenol/ Clorofórmio - Fim


Peixes estranhos e serpentiformes, pólipos cianos e hydras peçonhentas convivem no nosso aquário, o qual ela trata com tanto amor. Para variar Organelas artificiais... , maquinadas num cérebro poderoso e complicado,mas ela diz que me quer nessa noite. Em cima da bancada fria e em meio as vidrarias...
Acordo feliz, com os primeiros raios do Sol, mas sozinho. Nao sei onde ela se escondeu.
...
Três dias e nada! meu peito queima e se entrelaça.
E ao quinto dia sinto o seu perfume mas não ouço sua voz, nunca diretamente para mim...
Ela não me olha nos olhos, e isso corrói a minha paz... Já estou cheio disso!
Eu que a construí, cada bloco do seu perfeito corpo e mente problemática, não era para ser assim, mais uma vez deu tudo errado, pus demasiado de mim na garota. Tenho de rasgar ela ao meio, quebra-la em pedaços diferentes, cortar os seus pés e queimar suas asas... E guardar seu corpo no laboratório, junto com as outras, no meio dos tritões, salamandras, batráquios, e os porcos fluorescentes. Amanha, depois do café, vou ir em frente.

8: 00 AM, Ela chega tão cheia de si, graciosamente deslizando pelos corredores, passa reto por mim, e vai direto aos experimentos. E eu com a seringa atrás de mim, me aproximando devagar para dar um fim a isso tudo. Ela consegue perceber o meu calor, pode enxergar no infravermelho sibilando, essa... Cobra, e rapidamente segura a minha mão e me desfere o toque venenoso dos seus lábios. Paralisado.
...
Isso foi a ultima coisa que consigo lembrar, o que veio após não pude ver ou sentir, estava desmaiado. Mas dava para perceber o cheiro de carne queimada, sangue e lágrimas de reptiliano.
Agora fico aqui nesta bancada, num pote de vidro com liquido amniótico, observando o transitar de seu belo corpo, admirando sua esperteza e sagacidade. E hoje ela consegue me olhar nos olhos, no meu belo par de olhos castanhos. O que será que ela esta tramando?, há uns dias atrás a vi macerando um pedaço de gordura da minha pélvis... . Já era madrugada, e os sons da lâmpada fluorescente, do contador Geiger, do ar-condicionado e das minhas funções vitais preenchiam o laboratório.

28/10/2007

Fenol/ Clorofórmio - Ato II

... Sua mão estava cheia de picadas antigas, mas com essa cobaia era diferente, ela nao se mostrava agressiva, na verdade era até submissa demais, ficando a mercê dos caprichos de sua tratadora, tinha desenvolvido um conexão do tipo síndrome de Estocolmo, criado certa cumplicidade. Claro, que não era de sua natureza esse comportamento, os répteis são frios... Uma espécie tão indiferente, confortáveis em sua pecilotermia, e vaidosos com sua solidão. A fizemos assim, manipulamos seus gens para torná-la mais humana e defeituosa.
A minha amada e seu animal compartilhavam uma mesma seqüência de nucleotídeos, uma parte de cada uma em cada uma. Por isso ela é tão fria e desinteressada. Soma isso com minha falta de jeito...

13/10/2007

Fenol/ Clorofórmio


Já era madrugada, e os sons da lâmpada fluorescente, do contador Geiger e do ar-condicionado preenchiam o laboratório.
Ela macerava os pedaços de gordura para extrair um bom material e os limpava com fenol/clorofórmio. Pediu para eu alcançar um bocado de Nitrogênio líquido para armazenar as amostras.
Nossa pesquisa sobre regeneração do tecido humano utilizando células modificadas de répteis e anfíbios foi considerada revolucionária por todos. E eu não estava nem um pouco preocupado com isso, ou com a solução dos problemas paraplégicos.
Na verdade, para mim era mais fácil brincar de Deus com material biológico e radioativo do que fazer parte dessa brincadeira insana de competição animal. E era isso que eu era, e dessa forma que me sentia... . No meio daquelas fotos em ultravioleta, enxergava um meio... Um fim talvez.

Eu e ela sozinhos, meus olhos escondidos em óculos embaçados e os dela atrás das lentes de plástico orgânico.
Ela escolhe a serpente mais peçonhenta para retirar uma amostra,

continua...

01/10/2007

A arte de morar sozinho e não ter uma Tv.

Fui tateando as paredes do local, um tanto úmidas e pegajosas, parecem carne quente e com essa escuridão não vejo um milímetro sequer, ainda mais agora que acabei de estraçalhar os meus óculos, mas me sinto bem, parece lá em casa, nada de pavor e medo, como se fosse um velho conhecido, bem, eu já morei em lugares menores que os poros de uma adolescente. O que incomoda é esse ar viciado, perfume de açúcar, mel e tomilho, hortelã e capim de cheiro.
Nesse asilo me encontro diversas vezes no dia.
- Olá, andas meio sumido né?
- Pois.
- E tu, se escondendo?
- É... Aqui e ali.
O som do relógio fica mais lento, e eu queria mesmo um daqueles atômicos de Césio que atrasam somente um segundo a cada trinta mil anos. No rádio a mesma música latina de voz esganiçada,... Até que são bons esses caras, vou baixar alguma coisa se me lembrar. Tinha de escrever algo sobre um escritor que não sabe o que vai escrever, do tipo que não possui televisão em casa, e as únicas ondas eletromagnéticas que ele realmente aproveita, são as ondas de rádio, nem falo da luz visível, pois ele dorme o dia todo e só acorda quando já é tarde e escuro. Então tem de ficar jogando com a mesquinhez da economia de fótons, jogado na poltrona despedaçada e bolorenta do seu quartinho de quinze mangos à diária.
Acho que é um bom enredo. Só falta começar... Mas por onde?

23/09/2007

Raio-X da mente


a Ressonância. Transmite cada pacote de energia, pedacinho por pedacinho.
É dessa forma que consigo enxergar. Dessa forma que eu gosto de ver.
É claro que viver com os olhos fechados é mais fácil.
Foi numa dessas noites abafadas de início de Primavera, sem muita grana, mas com muita sede. Escolhi o melhor lugar do boteco. De qualquer forma, ele estava vazio aquela hora.
Fiquei delineando no espaço imaginário os traços da Moça do bar. 15 nanossegundos.
Pedi um garrafa gelada, um copo e um cinzeiro.
Pensei no quanto as Leis Naturais são proibitivas a vida, em garras e dentes de adamantium, na sorte de dividir a mesma época e a mesma cidade.
E nos ossos quebrados que ela tenta consertar.
Cheguei perto para dizer, o suficiente para ela ouvir o estalar da minha boca.
- me vê outra dessas aqui?
Tonto.

21/05/2007



Sou aquele que anda no lado errado dos trilhos...
que faz de um teorema teoria
aquele que desconcerta o seu riso
e ainda acinzenta os seus dias...